Página 9 - ERC2016_AsNovasDinamicasConsumoAudioVisuais

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Da minha infância há algumas recordações que lembro
em pormenor e duas dessas memórias têm a ver com
televisão.
Uma está associada à primeira vez que vi televisão, na
casa do vizinho, onde, para além do anfitrião, estavam
mais pessoas porque emtoda a rua só aquela família tinha
TV em casa.
A segunda recordação é a imagem, que lembro emdetalhe,
da primeira vez que ligámos umaparelho de televisão em
minha casa e a emissão arrancou ao final da tarde com
desenhos animados, após a famosa “mira técnica”.
Pertenço, destemodo, a uma geração que teve uma expe-
riênciamuito particular. Assistimos ao arranque das emis-
sões e à passagem do preto e branco para a emissão a
cores. Vivemos o fascínio do aparelho a válvulas que agora
se transformounuma experiência trivial, por exemplo, com
o consumo de vídeos numvisor de telemóvel. A antena que
dava vida à “caixinhamágica” é agoraum“pacote de dados”
que nos chega pela “fibra”.
As refeições em casa tiveram hora certa ditada pela RTP.
Agora, a larga maioria dos portugueses, pode escolher o
horário para ver o seu programa preferido. Mais importan-
te de tudo, um bem escasso foi democratizado e quase
todas as famílias têm, pelomenos, uma televisão emcasa.
Tudo isto em uma a duas gerações.
Na verdade, éuma experiênciadepoucomais demeio século
que foi “tomando sempre novas qualidades”. No entanto, é
inquestionável que o “ver televisão” manteve o seu papel
preponderante na rotina dos portugueses.
Até o ritual não foi assim tãomodificado. Emvez do nape-
ron temos uma série de comandos. Em vez da moldura
coma foto de família, temos um“processador 3D
Surround
”.
O ritual de “ver televisão” permanece, a sala de estar é que
passou a ser eletrónica.
Semdúvida que omeio “TV” temuma influência determinante
na sociedade portuguesa, nas suasmais variadas perspe-
tivas. As conclusões deste estudo confirmam-no.
Foi por este motivo que a edição de 2015 do inquérito
“ERC – Públicos e Consumos de Média” teve como tema
principal de análise “As novas dinâmicas de consumo
televisivo emPortugal”, umestudo coordenado por inves-
tigadores do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura
(CECC), da Faculdade de Ciências Humanas (FCH), da
Universidade Católica Portuguesa (UCP), e especialistas
da GfK. Este tema foi ainda objeto de uma análise onde
foram incluídos indicadores complementares sobre o
consumo diferido.
Este é o segundo estudo “ERC – Públicos e Consumos de
Média” e, à semelhançado que foi realizado em2014, abase
de dados do inquérito está disponível a toda a comunidade
académica e centros de investigação. O objetivo destes
estudos é promover o conhecimento sobre as mudanças
que se verificam a nível do relacionamento dos públicos
com os meios de comunicação social, de modo a, por um
lado, dispor de informação qualificada para o exercício das
funções regulatórias daERC e, por outro, disponibilizar essa
informação a todos os interessados (organismos públicos,
associações, profissionais dos
media
, empresários, inves-
tigadores, professores, estudantes, cidadãos, entre outros).
A primeira edição do projeto privilegiou a análise dos con-
sumos de notícias em plataformas digitais e a próxima
edição centra-se no estudo da relação entre as crianças e
os
media
.
Rui Gomes
Vogal do Conselho Regulador da ERC
AS
NOVAS DINÂMICAS
DO
CONSUMO AUDIOVISUAL
EM PORTUGAL
9
PREFÁCIO
A SALA DE ESTAR ELETRÓNICA
«Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.»