Página 10 - ERC2016_AsNovasDinamicasConsumoAudioVisuais

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O
crescimento da procura e da oferta de conteúdos
digitais, tanto informativos comodeentretenimento,
tem vindo a induzir alterações significativas no
ecossistemamediáticoatingindoaprodução, adistribuição
e a receção. Se é verdade que nos últimos anos muito se
tem escrito e discutido sobre os desafios que esta nova
realidade coloca às empresas de
media
(para uma síntese
vide
PicardeWildman, 2015), eaosórgãos reguladoresque
têmde lidar comum cenário em reconfiguração acelerada,
a verdade é que no espaço público os novos modelos de
negócio dos
media
têm sido objeto de um escasso debate.
Contudo, hoje parece claro que, mais do que discutir a so-
brevivênciados vários
media
, é fundamental queasempre-
sas que operamneste sector sejam capazes de implemen-
tar novosmodelosdenegócio, diversificando fontesde receita,
e focando a sua atividade no que efetivamente podem ofe-
recer de diferente aos cidadãos, que não seja uma mera
repetição dos conteúdos que estão disponíveis em livre
acesso nas mais diversas plataformas (Picard, 2010).
Esta necessidade de repensar osmodelos de negócios das
empresas de
media
, não sendo uma novidade, é algo que
deve continuar amerecer a atenção dos diversos operado-
res dada a importância dos meios de comunicação para o
funcionamento da própria democracia. No caso do jornalismo,
por exemplo, nas últimas décadas a filosofia prevalecente
tem privilegiado a oferta de notícias de última hora, colo-
cadas
online
numcurto espaço de tempo. Contudo, quando
todos os meios de comunicação seguem esta estratégia,
qual a sua mais-valia competitiva? As empresas que têm
vindo a entender que não podem continuar a oferecer o
mesmo tipo de conteúdos que garantiam o seu sucesso
no século XX, encontram-se em fase de reconfiguração dos
seus processos de produção procurando oferecer produtos
comumvalor acrescentado em relação aos demais e alte-
rando também as suas estratégias de presença na
web
.
A título de exemplo, desde abril de 2016 o
The Times
deixou
de atualizar o seu
website
e a sua
app
em permanência
para o fazer apenas três vezes por dia. A nova estratégia
passa então por oferecermenos conteúdosmas que sejam
diferentes daqueles que estão disponíveis gratuitamente
na rede. Em Portugal, o caso do
Expresso Diário
, lançado
em 2014, é igualmente um exemplo da implementação de
ummodelo de negócio que contraria aquela que é ainda a
ideia prevalecente da oferta de conteúdos na internet e que
se alicerça no conceito de atualização constante, o que
implica a produção de textos com informação pouco
aprofundada e um baixo valor acrescentado.
Alterar processos de gestão e de produção nas empresas
de
media
implicaumconhecimento aprofundado eholístico
do que são hoje as práticas de consumo de
media
no am-
biente digital
multimedia
. O seu desconhecimento tem,
aliás, levado ao insucessodemuitos projetos que, procurando
apresentar uma estratégia inovadora, acabarampor ofere-
cer soluções que estão desligadas dos interesses dos ci-
dadãos e da forma como estes se relacionam com os
conteúdosmediáticos no seu dia a dia. O presente estudo,
realizado para aERC, ao apresentar uma fotografiadomodo
como os portugueses acedem a diferentes tipos de infor-
mação e entretenimento nos mais diversos dispositivos,
e como valorizamcada umdeles, procura responder a esta
necessidade de ummelhor conhecimento das práticas de
consumo mediático no contexto digital
multimedia
.
Os dados comprovama existência de um fosso geracional
nas práticas de consumo, entre as gerações mais velhas,
quemantéma televisão e a sala de estar como o principal
meio e local privilegiado para o consumo de conteúdos,
por oposição às gerações mais jovens que, não obstante
manterem uma afinidade muito elevada com a televisão,
diversificam os seus locais de consumo bem como os
dispositivos através dos quais acedem a conteúdos au-
diovisuais.
A internet, e em particular as plataformas participativas
que hoje ocupam um lugar de relevo nas práticas de nave-
gação
online
dos indivíduos que acedem regularmente à
rede, são claramente o motor da mudança da relação que
existiu até há algumas décadas entre os cidadãos, a tele-
visão, a rádio e a imprensa. Tendo por base esta ideia, o
presente estudo procurou compreender se os portugueses
acedemà rede, não de uma forma ocasional, mas sim“pelo
menos uma vez por semana”. O facto de se ter optado por
introduzir esta baliza temporal permitiu concluir que mais
de umterço dos portugueses (39,5 %) não é utilizador ativo
da internet. Embora pareça uma realidade distante da
narrativa instalada sobre a digitalização do país, o resultado
vemcorroborar os estudos internacionais sobre esta temá-
tica que colocamPortugal na cauda da Europa. Uma obser-
vação mais fina, leva-nos a compreender que um dos
grandes problemas é a assimetria do acesso em termos
etários, dado que osmais jovens apresentamumconsumo
acima dos 95 % enquanto entre os indivíduos commais de
AS
NOVAS DINÂMICAS
DO
CONSUMO AUDIOVISUAL
EM PORTUGAL
INTRODUÇÃO