Página 12 - ERC2016_AsNovasDinamicasConsumoAudioVisuais

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mercado de transmissão em pós-produção). Percebe-se,
assim, que estas novas estratégias comerciais são uma
formade acompanhar as práticas de consumodos indivíduos,
colocando asmarcas embebidas nos próprios conteúdos e/
ou criando mundos ficcionais à volta deles, potenciando a
recordação positiva e a consequente compra a curto,médio
e mesmo a longo prazo. Estas estratégias são uma clara
resposta ao ambiente digital
multimedia
que veio colocar
em causa o modelo de negócio assente nos anúncios tra-
dicionais transmitidos em intervalos publicitários.
Outro dado interessante que ressalta do estudo é o facto
de os inquiridos não indiciaremumuso recorrente e trans-
versal das funcionalidades oferecidas pelas
smart TV
. Um
estudo da DECO/Proteste (2012) já havia chegado a essa
conclusão, ao verificar que 83 % dos inquiridos, apesar de
terem despendido cerca de mil euros num aparelho de te-
levisão de última geração, continuavam a usá-lo sem reti-
rar proveito das novas funcionalidades que este oferece.
Neste seguimento, éde assinalar que o televisor permanece
como o meio de eleição para o consumo de conteúdos
audiovisuais (acima dos 90 %).
O
smartphone
, ao contrário da
smart TV
, é utilizado de
formamais recorrente para o acesso à internet. No contexto
indoor
é o dispositivomais usado enquanto se vê televisão
(
multiscreening
). O uso de umsegundo ecrã para a procura
de informação sobre os programas em visionamento ou
para a prática de
second screening
– atividade pouco di-
fundida em Portugal por falta de aplicações para o efeito
– mostra-se pouco expressiva.
Em contexto
outdoor
é curioso verificar que 57,9 % dos
inquiridos admite não ter o hábito de consumir produtos
audiovisuais. Os que o fazem – com os mais jovens a
mostrarem-se, mais uma vez, os principais consumidores
–afirmamvisionar conteúdos de fluxo, como a informação
e o desporto, emespecial através do televisor e em locais
públicos. Nesta sequência, entende-se que 65,5 % dos
inquiridos admitam que “deixar de ver televisão” seria a
atividade quemais dificuldade teriamem fazer, seguindo-
-se a internet com 26,7 %. No entanto, a comprovar a im-
portância do efeito geracional na relação dos indivíduos
com os diferentes meios de comunicação, entre os 15 e
os 34 anos a percentagem dos que confessam ter mais
dificuldade emdeixar de aceder à internet é já superior aos
que afirmamque não conseguiriamdeixar de ver televisão.
Por fim, o estudo procurou perceber a tendência de gosto
e de interesse dos portugueses em relação à subscrição
de serviços de acesso a conteúdos de
stock
via internet,
observando-se, contrariamente a possíveis expetativas,
que 55,9 % dos inquiridos não possuemqualquer interesse.
Os serviços de
streaming
têmvindo a ganhar terreno nos
mercados internacionais, promovendo, não só a difusão e
consumo de produtos de origem norte-americana, mas
tambémproduções nacionais, resultado de parcerias entre
as empresas de
streaming
e os produtores locais. Este
facto tem vindo a agitar o sector, promovendo acesos
debates sobre o desaparecimento da televisão como a
conhecemos, assim como o possível decréscimo das
subscrições dos pacotes de televisão.
Embora a última década tenha sidomarcada pormutações
significativas no sector dos
media
e dos dispositivos que
permitem o acesso a conteúdos informativos e de entre-
tenimento, quando consideramos a população portuguesa
no seu todo, percebemos que os conteúdos audiovisuais
continuama ser consumidos, primordialmente, via televisão
e que o acesso à internet, tantofixa comomóvel, não é ainda
uma realidade transversal emtermos etários. Os jovens são
os mais ativos na adesão às novas tecnologias e na explo-
ração denovas formas de consumo desde o consumo
online
e emmobilidade, passando pelo
timeshifting
.
O presente estudo identifica, igualmente, que osmeios de
comunicação hoje ditos tradicionais – imprensa, rádio e
televisão – continuam a ser relevantes no dia a dia dos
portugueses e representam uma percentagem muito
significativa da dieta mediática mesmo dos segmentos
mais jovens, que muitas vezes são apresentados como
tendo menos contacto com estes meios. Não obstante a
necessidade urgente de recriação dosmodelos de negócio
menos assentes no financiamento dos anunciantes e,
consequentemente, mais dependentes da oferta de con-
teúdos inovadores e diferenciadores, as empresas que
operam no sector dos
media
continuam a ser altamente
relevantes na sociedade contemporânea. A televisão, a
rádio e a imprensa continuam a ser responsáveis pela
produção e difusão damaioria dos conteúdos informativos
e de entretenimento que alimentam o debate público, in-
dependentemente da plataforma emque estes conteúdos
são consumidos. Ainda assim, tal como ocorreu aquando
do aparecimento de novosmeios de comunicação ao longo
de todo o século XX (Ribeiro, 2015), estamos atualmente
a presenciar a recomposição do ecossistema mediático
como redimensionamento do valor atribuído a cadameio.
A compreensão deste processo e das novas formas de
relação dos cidadãos comos diferentes tipos de conteúdos
e dispositivos será essencial para a estruturação de novos
modelos de negócio, o que se afigura hoje como umgrande
desafio para as empresas de
media
.
AS
NOVAS DINÂMICAS
DO
CONSUMO AUDIOVISUAL
EM PORTUGAL