Experiência: "Sei que não vou por aí - Notícias falsas e Teorias da Conspiração"
Título da Experiência
Sei que não vou por aí - Notícias falsas e Teorias da Conspiração
Estabelecimento de Ensino
Escola Secundária de Amares
Referência a um professor responsável
Jorge Alberto Brandão Soares de Carvalho
Experiência colocada em prática desde janeiro de 2019?
Criada em Novembro de 2021; a ser repetida em Novembro de 2022
Descreva brevemente a experiência
Esta atividade formativa surgiu da necessidade de promover a compreensão de fenómenos como a desinformação, as notícias falsas e as teorias da conspiração, muito disseminadas entre os jovens, desenvolvendo neles o sentido crítico e as competências de análise crítica dos média e da informação.
Experiências realizadas com alunos com idades entre os 6 e os 18 anos
15-17 anos
Disciplinas implicadas
Filosofia; Cidadania; TIC
Quais foram os objetivos de aprendizagem?
Nesta atividade da Biblioteca Escolar foram definidos os seguintes objetivos que pretendem abarcar diferentes conhecimentos e competências de âmbito diverso; por um lado, garantir o conhecimento e compreensão de fenómenos como as notícias falsas e as teorias da conspiração; por outro lado, desenvolver um conjunto de competências de análise crítica dos média e de pesquisa, análise e organização da informação de natureza diversa; por fim, acautelar um enquadramento reflexivo desenvolvido em permanente articulação com os professores de Filosofia:
1 – Conhecer os mecanismos e características das teorias da conspiração;
2 - Reconhece os perigos das teorias da conspiração e da proliferação das notícias falsas;
3 – Reconhece notícias falsas (fake news) e as suas características;
4 – Identifica diferentes tipos de registos de informação;
5 - Desenvolver o espírito crítico e prevenir comportamentos associados a estes fenómenos;
6 - Definir uma metodologia de pesquisa, selecionando ferramentas e fontes de informação (impressas ou digitais) a utilizar;
7 - Selecionar a informação recolhida em diferentes suportes, reconhecendo a diferença entre fontes de informação primárias e secundárias;
8 - Trabalhar colaborativamente, debatendo e justificando os seus pontos de vista, confrontando‐os com os dos outros e reformulando posições;
9- Usar ferramentas digitais na produção de trabalhos e na sua partilha e divulgação;
10 - Usar autonomamente a biblioteca escolar e outras bibliotecas, físicas e/ ou digitais, para trabalhar a informação;
11 - Mobilizar os conhecimentos adquiridos para analisar criticamente ou propor soluções para problemas éticos que possam surgir a partir da realidade (Aprendizagens Essenciais da disciplina de Filosofia);
12 - Aplicar os conhecimentos adquiridos para discutir problemas políticos das sociedades atuais e apresentar soluções, cruzando a perspetiva filosófica com outras perspectivas (Aprendizagens Essenciais da disciplina de Filosofia)."
Qual foi a origem desta proposta?
Esta proposta nasceu, em primeiro lugar, no contexto do trabalho quotidiano de articulação da Biblioteca Escolar com os professores das diferentes áreas, tendo em vista o desenvolvimento do currículo e a promoção das literacias da leitura, dos média e da Informação, no quadro do Referencial da RBE, Aprender com a Biblioteca Escolar. No caso dos docentes da disciplina de Filosofia, este trabalho colaborativo ocorre há vários anos e é desenvolvido com regularidade. O interesse por estas questões – notícias falsas, desinformação, teorias da conspiração – sendo manifesto nos últimos anos, surgiu de forma ainda mais acentuada no contexto da pandemia de COVID-19. Toda a sociedade foi confrontada com múltiplos exemplos de desinformação, expressões de negacionismo, notícias falsas e teorias da conspiração à volta da origem, expansão e características da pandemia que afetou todo o planeta. Os nossos alunos, como os jovens em geral, mostraram-se particularmente permeáveis a estas influências, atendendo à sua particular ligação às redes sociais, veículo preferencial de circulação e disseminação destes fenómenos. Percebemos, assim, que seria fundamental encontrar uma forma de lhes proporcionar a construção do conhecimento sobre estas questões, de desenvolver competências de discernimento dos fundamentos, características e propósitos destes fenómenos e de estabelecer um quadro teórico explicativo da (ir)racionalidade que lhe está subjacente. Por fim, um impulso determinante para esta proposta decorreu do facto de o seu autor, o professor bibliotecário, ter realizado, em 2018 e em 2020, no âmbito de seminários internacionais, formação sobre estas temáticas com o Professor Hubert Strouk, historiador e responsável do Serviço pedagógico do Mémorial de la Shoah (Paris).
Que metodologias foram utilizadas?
A proposta desenvolve-se em 4 etapas com 4 aulas e tempo de trabalho autónomo.
Na primeira etapa - Apresentação (1 aula) é realizada uma sessão de contextualização e debate sobre teorias da conspiração e notícias falsas e são apresentados aos alunos os objetivos, metodologias, modelos e prazos para a realização dos trabalhos concretizados em grupos de 2/3 elementos;
A segunda etapa – Pesquisa de informação (1 aula e trabalho autónomo) destina-se à pesquisa e seleção de notícias, artigos, vídeos, fotografias e outros registos em livros, jornais, revistas e sites com tópicos controversos, objeto de notícias falsas e teorias da conspiração.;
Inicia-se assim a terceira etapa – Organização da informação (1 aula e trabalho autónomo). A partir do levantamento realizado, cada grupo seleciona uma teoria da conspiração analisando e compreendendo as características e os mecanismos que lhe estão subjacentes. Devem analisá-la tendo em conta o seguinte quadro conceptual:
a) A teoria/plano
b) O carácter secreto
c) Identificação dos supostos autores da conspiração
d) “Elementos de prova”, coincidências, relações e argumentos que são apresentados
e) Exemplos da divisão maniqueísta
f) A existência de bodes expiatórios
g) Identificação/caracterização dos apoiantes
h) Como se desenvolve/propaga a teoria
i) Exemplos da lógica conspiracionista
j) Exemplos de manipulação
k) Preconceitos subjacentes à teoria
l) Exemplos de discurso de ódio e violência na teoria
m) Questionamento do conhecimento científico e dos processos democráticos
Tendo por base este quadro referencial os alunos têm de selecionar e organizar a informação, elaborando um poster com uma infografia sobre o Tema/Teoria da Conspiração escolhida.
Na última etapa - Divulgação (1 aula) é realizada a apresentação à turma das infografias, seguida de debate e avaliação. A divulgação dos trabalhos será ainda feita em exposições na escola e na comunidade (Bibliotecas, espaços públicos) e nas redes sociais"
Se um professor de outro estabelecimento de ensino estivesse interessado em replicar a iniciativa, como a explicaria?
A atividade que desenvolvemos é facilmente replicável noutras escolas, por outros professores.
Em primeiro lugar, chamaríamos a atenção para a importância de a iniciativa se desenvolver no quadro de uma disciplina (Filosofia), do currículo dos alunos de 10º e 11º anos e não numa atividade isolada da Biblioteca Escolar. Entendemos que assim é mais profícuo e consistente trabalhar as competências no âmbito das literacias dos média, da informação e da leitura.
Em segundo lugar, destacaria a importância de esclarecer as características, natureza, formas de disseminação e consequências do desenvolvimento de notícias falsas e teorias da conspiração. É muito importante, no contexto escolar, junto dos jovens, muito ativos na comunicação digital, nomeadamente nas redes sociais, demonstrar que elas promovem o discurso do ódio, o racismo e a discriminação, são catalisadoras da violência, questionam o valor do conhecimento científico e põem em causa os processos democráticos e provocam a erosão das instituições.
Em terceiro lugar demonstraria as 4 etapas sequenciais (Apresentação/Pesquisa de Informação/Organização da Informação/Divulgação) de desenvolvimento da atividade que necessitam de acompanhamento dos docentes, mas preservam grande espaço de autonomia aos alunos.
Por fim, destacaria que os materiais de apoio à concretização desta atividade (Apresentação, tutorial de orientação da pesquisa de informação, tutorial para elaboração da infografia, rubricas de avaliação) estão disponíveis como recursos educativos abertos podendo ser utilizados e adaptados no âmbito de licença Creative Commons (https://drive.google.com/drive/folders/1PImuRN554JsIBqZHMy2241n5mdKgCkx5?usp=share_link)"
Como é que o uso *da tecnologia* enriqueceu ou melhorou a aprendizagem dos alunos?
A tecnologia é hoje imprescindível no desenvolvimento das práticas de ensino e aprendizagem. Em todo o caso, a utilização da tecnologia e das ferramentas digitais deve ser sempre pensada enquanto meio para alcançar o fim último que é o do sucesso dos alunos.
Neste caso, pensamos que a utilização da tecnologia reforçou a centralidade dos alunos no processo de aprendizagem e a sua autonomia, sobretudo a partir da segunda etapa. O uso da tecnologia foi essencial na fase da pesquisa e seleção da informação. Os alunos tiveram, através dos dispositivos digitais, acesso a fotografias, notícias, vídeos, artigos e muitas outras fontes de informação, fundamentais para a realização do trabalho, valorizando o desenvolvimento de competências no âmbito da literacia de informação. Também na fase de elaboração dos trabalhos o uso da tecnologia foi estruturante, valorizando a criatividade dos estudantes. Os alunos utilizaram uma ferramenta de desenho gráfico – CANVA – para construir as infografias. Esta ferramenta de fácil acesso em computador, tablet ou telemóvel – dispositivo em que os alunos dominam - é muito intuitiva, tem múltiplas funcionalidades, permite trabalho colaborativo à distância, revelando-se de grande utilidade neste processo."
Qual o grau de participação e de envolvimento dos alunos?
A matriz metodológica que enquadra esta proposta radica numa lógica construtivista das práticas educativas, enfatizando a autonomia dos alunos na estruturação de aprendizagens significativas, privilegiando-se, consequentemente, no contexto da Biblioteca e da sua ligação ao trabalho dos docentes em sala de aula, estratégias de leitura e de pesquisa, utilização, tratamento e crítica de variadas fontes de informação, em diferentes suportes, organizadas em torno de uma atividade que os alunos levam a cabo, sob orientação do professor-bibliotecário e dos seus professores.
Nesta lógica, o cenário de aprendizagem que foi concebido aproxima-se do modelo de aprendizagem baseado na investigação. Naturalmente, sendo jovens alunos, o trabalho deve ser enquadrado, acompanhado e monitorizado pelos docentes garantindo, no entanto, autonomia na realização das tarefas, sobretudo a partir da segunda etapa do trabalho. São os alunos que realizam a pesquisa da informação, identificando as situações, analisam e selecionam os dados para trabalhar, estruturam a informação a partir de um quadro teórico, organizam a informação em termos infográficos e apresentam-na aos professores e aos seus pares. Registe-se que nesta experiência foram realizados mais de 50 trabalhos. Os trabalhos foram expostos na Escola e na Biblioteca Municipal, despertando bastante interesse entre os alunos e na comunidade educativa."
Que estratégias e instrumentos de avaliação foram utilizados?
O desenvolvimento dos trabalhos foi objeto de permanente monitorização. O facto de a experiência ser implementada no contexto de uma disciplina (Filosofia – turmas de 10º e 11º anos) permitiu que esta atividade fosse considerada na avaliação dos alunos, numa lógica de diversificação dos seus instrumentos. Foi, assim, elaborada uma rubrica de avaliação incluindo 3 domínios. No primeiro avaliou-se de que modo os alunos adquiriram os conhecimentos estabelecidos para este trabalho: reconhecendo a importância da Filosofia para o desenvolvimento do pensamento crítico, nomeadamente a capacidade de refletir sobre a informação que nos chega através dos média; avaliando e selecionando informação;
reconhecendo a importância da argumentação na justificação das nossas crenças; trabalhando colaborativamente, debatendo e justificando os seus pontos de vista, confrontando‑os com os dos outros e reformulando posições. No segundo domínio – aplicação prática - avaliou-se a organização e a estrutura do trabalho de acordo com todas as regras infográficas disponibilizadas, bem como o rigor da linguagem utilizada. No terceiro domínio atendeu-se ao compromisso com a aprendizagem revelado na conduta interrelacional e no cumprimento dos prazos estipulados, no rigor e na capacidade de superação das dificuldades e ainda o desenvolvimento do pensamento reflexivo, crítico e criativo, procurando sempre novas soluções. Para cada um destes critérios foram definidos 5 descritores de desempenho, correspondentes a 5 níveis (Insuficiente, Não satisfatório, Satisfatório, Bom e Excelente)
As etapas do trabalho foram objeto de constante monitorização por parte dos docentes e do professor bibliotecário com registo da observação do processo de elaboração dos trabalhos e da sua apresentação, com permanente feed-back culminando com o preenchimento, pelos docentes, da grelha de avaliação dos trabalhos realizados e da realização de um questionário final de autoavaliação, pelos alunos."
Quais foram as principais conclusões e avaliações tiradas após colocar em prática essa experiência?
Atendendo à avaliação realizada, consideramos que a realização desta experiência foi francamente positiva e atingiu a generalidade dos objetivos propostos em 3 planos:
Em primeiro lugar, percebeu-se que a esmagadora maioria dos alunos desconhecia as teorias da conspiração, tendo agora ficado a conhecer os seus pressupostos e características bem como os perigos a elas associados. Por outro lado, o fenómeno da desinformação e das notícias falsas é mais conhecido, mas, por regra, são ignorados os seus propósitos e os respetivos mecanismos de proliferação. Com a formação os alunos reconheceram que, muitas vezes, mesmo que involuntariamente, ajudavam a propagar essas notícias, estando agora mais conscientes e prevenidos nestas situações. Consideramos, assim, que a atividade ajudou a desenvolver o espírito crítico dos alunos e a fortalecer o seu sentido cívico que estas questões questionam.
Em segundo lugar, entendemos que a atividade teve um impacto positivo no desenvolvimento e consolidação das competências dos alunos no âmbito das literacias mediática e informacional. As tarefas que implicaram a pesquisa, seleção e validação de fontes de informação em diferentes suportes e a sua organização numa apresentação infográfica foram concluídas com sucesso numa ferramenta digital.
Finalmente, também foi significativa a possibilidade de mobilizarem os conhecimentos adquiridos na disciplina de Filosofia para analisar criticamente ou propor soluções para problemas éticos que possam surgir a partir de uma realidade do seu quotidiano e, ao mesmo tempo, aplicar os conhecimentos adquiridos para discutir problemas políticos das sociedades atuais e apresentar soluções, cruzando a perspetiva filosófica com outras perspectivas.
Qual o impacto desta experiência nos alunos e no seu ambiente?
Entendemos que a experiência correu de forma bastante positiva, o que levou a repeti-la no presente ano letivo. Os professores consideram que a atividade abordou um tema muito relevante na atualidade, enquadrando-o numa perspetiva filosófica. Entendem que, para além desse aspeto, também a metodologia adotada foi bastante motivadora para os alunos. Consideram, ainda, que os alunos fizeram aprendizagens significativas sobre as questões analisadas, reforçaram as suas competências no âmbito das literacias trabalhadas e que também será positivo o impacto nas suas atitudes e valores relacionados com as questões abordadas.
A atividade teve também um impacto positivo na consolidação de hábitos de utilização da informação e de frequência da Biblioteca Escolar bem visíveis durante as semanas de realização da experiência, tanto no plano da pesquisa e seleção como da organização da informação, com a elaboração das infografias.
Um outro aspeto que queremos destacar foi o interesse e impacto das exposições, na Escola e na Biblioteca Municipal Francisco de Sá de Miranda. Algumas infografias relacionadas com a COVID-19 foram também afixadas no Centro de Saúde local."
Que melhorias incluiria se repetisse esta experiência?
No presente ano letivo a experiência está a ser repetida, agora com os alunos que este ano estão a frequentar o 10º ano. Foram, desde logo, introduzidas as seguintes alterações:
- Mais um tempo em contexto de sala de aula para desenvolvimento das segunda e terceira etapas (o ideal seriam mais tempos mas tal é difícil no contexto escolar);
- Criação de uma pequena bibliografia de apoio (pasta partilhada anteriormente);
No presente ano, procurou-se, ainda, orientar mais a seleção dos temas dos trabalhos. No ano anterior houve alguma tendência para escolherem, sobretudo, temas relacionados com a pandemia ou com notícias e teorias bizarras (sobre estrelas da música, por exemplo).
Vídeo
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